Desde o momento no qual decidi levar as essências florais para as vítimas da barragem da Samarco, em Mariana, MG, tudo foi se confluindo para que esse trabalho ocorresse com leveza e sem obstáculos. Apesar de não ter sido fácil, pois levei algum tempo para encontrar um ponto de partida lá e a forma com a qual iria ter acesso as pessoas e entregar-lhes os florais. Eu não tinha nenhum contato por lá e as pessoas que eu conhecia também não.
O objetivo era levar a elas um conforto inicial, trabalhando as emoções negativas que decorrem naturalmente de uma situação traumática e, com isso, prevenir que outros transtornos se instalem ao longo do tempo, tais como, depressão, transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, etc. Consegui o contato do padre Geraldo Martins da Arquidiocese de Mariana, através da internet, na tentativa de encontrar alguma ONG ou associação que pudesse me ajudar. Ele sugeriu que eu fosse para Mariana apenas para tentar fazer contatos pessoalmente, já que a distância eu não estava conseguindo. Essa idéia surgiu porque ele queria me ajudar de alguma forma, mas não sabia como, e as pessoas estavam sendo retiradas dos abrigos e alocadas em casas, estariam dispersas e seria difícil o acesso a elas. Mas essa foi a melhor porta que poderia ter se aberto para mim naquele momento, pois a Arquidiocese está ao lado do povo, lutando por seus direitos e realmente interessada em fazer algo por ele. Foi o padre Geraldo quem me acolheu e me apresentou as pessoas que me ajudaram.
Eu não estava muito satisfeita em fazer essa viagem apenas para contatar as pessoas e pensei que já poderia aproveitar a oportunidade para fazer algum trabalho, mas nem imaginava como: não tinha nada estruturado e ainda teria que conseguir as essências.
Foi quando cheguei em casa e encontrei um pacote dos correios na mesa da sala: eram fórmulas da Ararêtama, que a Sandra preparou especialmente para esse trabalho: Esperança Emergencial. Fiquei muito emocionada, com a atitude, o carinho e com tamanha sintonia, pois não esperava que ela me enviasse as essências naquele momento porque havíamos combinado que o faria quando já tivesse algo estruturado, mas ela me disse que “sentiu” que era o momento. É uma fórmula emergencial preparada com a s essências Rudá, Noronha, Cajá, Pyatã, Suri, Field e Soberania. Trabalha recuperação, resiliência, conexão, renovação. A partir de então, começamos a pensar juntas o que poderia ser feito. Sandra me sugeriu que preparasse garrafinhas de água mineral de 500 ml com a fórmula para ser entregues a cada família.
Ainda não sabia como faria isso, quando me lembrei que no primeiro contato com o padre Geraldo ao telefone ele me disse que faria uma missa e um jantar para essas pessoas no dia 23 de dezembro. Na mesma hora eu tinha pensado que iria a essa missa nem que eu fosse a Mariana só para isso, independente de conseguir trabalhar. Não sei por que me bateu esse sentimento, essa vontade. Mas penso que foi porque achei muito bonita essa intenção dele. Então, esse seria o momento apropriado para oferecer os florais a quem quisesse.
E foi assim que aconteceu: após a missa e durante o jantar, o padre Geraldo anunciou ao microfone que eu estava ali para dar as pessoas “uns florais, que eram totalmente naturais e serviam para acalmar, para que elas dormissem melhor e ficassem mais tranqüilas, e que isso iria ajudá-las muito”. E foi enfático ao dizer como elas deveriam tomar! Achei isso muito lindo, pois ele estava realmente se importando. Foi muito emocionante na hora que comecei a entregar as garrafinhas: algumas pessoas pediam porque o padre falou, outras estavam mais conscientes do que era aquilo e que necessitavam, outras porque pensavam que era água benta, e outras porque havia alguém dando algo. Mas todas estavam receptivas e até os padres que estavam participando do evento, e pessoas que estavam trabalhando lá, também vieram me pedir. A Patrícia, amiga do padre Geraldo, que me acolheu na sua pousada (de graça, a pedido dele porque eu iria fazer um trabalho voluntário), me ajudou a distribuir e percebi que o fazia com satisfação. Foi realmente tudo muito gratificante por causa dessa comunhão. E eu me sentia leve e integrada as pessoas, que naquele momento também estavam assim. Esse foi o trabalho que consegui fazer em Mariana.
Depois fui para Barra Longa, um município de lá, também sem saber como fazer. Os contatos que eu tinha lá, que era o padre Wellerson e o Thiago do MAB (movimento de apoio aos atingidos por barragens) não estavam lá no momento em que cheguei. Então, numa loja (cidade muito pequena todos se conhecem) me disseram para procurar a Mércia, moradora também integrante do MAB, em sua casa. Ela me orientou que procurasse seu Raimundo, o beija-flor, que ele poderia reunir algumas pessoas no salão comunitário. E foi o que aconteceu, reunimos um grupo de umas 15 pessoas, mas foi mais intimo, pude conversar com elas e detectei que algumas estavam com depressão e outra com sintomas do estresse pós-traumático. Dei a garrafinha para elas e, também, para levarem para pessoas e familiares que julgavam que estavam precisando. No dia seguinte, o Marcio, um morador de lá, gentilmente me levou até Gesteira, um pequeno povoado, por uma estrada de terra durante uma hora. Também sem nada estruturado e o que fizemos foi bater de porta em porta, explicar para as pessoas quem eu era, qual o meu objetivo e o que eram os florais. Isso eu fiz durante todo o trabalho, informando, inclusive entregando junto com cada garrafa, um folheto explicativo sobre os florais.
Também levei os florais para o abrigo de animais da prefeitura de Mariana, onde tem muito trabalho voluntário acontecendo. Eles conheciam um pouco sobre os florais e foram bem receptivos. O mais interessante foi que, ao final da tarde, uma voluntária de lá me enviou uma mensagem perguntando se poderia dar para as galinhas também, porque elas estavam muito nervosas. Eu disse que sim, e uma semana depois, quando perguntei se estava tudo bem, ela disse que estava tudo tranquilo, mas que os florais haviam acabado e enviei mais para eles.
O que eu senti a todo o momento foi que, pessoas que estão traumatizadas e abandonadas pelo poder público, eram gentis, acolhedoras e, apesar de precisarem de ajuda, estavam interessadas em ajudar também: me convidavam para almoçar, dormir em suas casas e me auxiliar em meu trabalho.
Nesse mês, voltarei a Barra Longa no dia 28 para dar continuidade ao trabalho, o que pretendo fazer uma vez por mês durante esse ano. Pretendo estender esse trabalho a outros lugares da região e, também, abrir outras frentes com parcerias, como por exemplo, com a rede de médicas e médicos populares, que se interessa por um trabalho em conjunto com as terapias complementares. Para isso, preciso que outros terapeutas florais que tenham disponibilidade, queiram participar dessa empreitada, afinal, é uma forma que temos de levar a terapia floral para o “campo”, no seu duplo sentido. Por falar nisso, também levei as essências florais para os rios e a terra. Tenho percebido que a conexão com a natureza foi uma das maiores descobertas para mim nesse trabalho, e essa será uma grande vertente nesse ano: uma reparação com a natureza, não somente com as pessoas.
Como disse no início, tudo foi confluindo para que o trabalho acontecesse e muitas pessoas me ajudaram. Enorme gratidão a Sandra Epstein pela sua doação! Por isso a nossa grande sintonia. A todo o momento ela estava ligada ao que eu estava fazendo. Senti que ela realmente comprou essa causa e estava junto comigo. Não foi a toa que isso aconteceu, pois quando assisti a suas aulas no curso do HESFA, minha identificação com o sistema da Ararêtama foi imediata, tenho uma paixão por essas essências! Vera Gondim, que também fez um lindo trabalho em Petrópolis na época das enchentes no Vale do Cuiabá, me orientou desde o iniciou, e vem incentivando as pessoas a participarem de alguma forma, até com doações financeiras. Tem estado ao meu lado de uma forma muito especial e espiritual. Cynthia Accioly e Anete Efftig também me incentivaram com suas experiências e orientações e doações. Anete também fez um trabalho importante nas enchentes em Blumenau. Célia Gouvêa, Lizete de Paula e Rogéria Comim colocaram a Rioflor e a Conaflor a disposição e daqui para frente a participação será maior. Também as lindas pessoas de Mariana: padre Geraldo Martins, Patrícia Simões, seu Raimundo e Marcinho. Uma enorme gratidão também às pessoas que fizeram doações em dinheiro para cobrir as despesas com esse trabalho.
E vamos para o próximo passo.
Abraços,
Ana Lúcia Pedrozo
Sobre Ana Lúcia Pedrozo
Terapeuta Cognitivo-Comportamental e Terapeuta Floral
Psicóloga formada pela UERJ
Mestre em psicologia pela UFRJ, com o tema Tratamento da Terapia Cognitivo-Comportamental para o Transtorno do Estresse Pós-traumático.
Formação Florais de Bach Healingherbs
Especialização em Terapia Floral HESFA\UFRJ